quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

DEVANEIOS

A alma, esta menina levada, hoje se recusa a dormir.
Ouço músicas. De quebra, músicas de menina: I love you...
Que levada esta criança.... Viaja pelos anos sessenta, mas atenta ao século XXI
Dormir: ora perder tempo, ora se encaramujar na solidão...
Hoje, precisamente hoje, me sinto bem assim, sozinha!
Casa cheirosa, Janna aos meus pés, cerveja gelada, rio risos de alegria...
Divago pela noite, ora se viu, eu do dia...
O dia me fartou. Escureço na imensidão do ser. Ilumino com a luz das estrelas, me afago com os pingos da chuva...
A noite silencia almas afoitas e aflitas sob o guarda-chuvas.
Tudo se acalma: menos o pensamento que se devaneia em palavras: ora vãs, ora capciosas ao vento.
Vento não há: a natureza, de banho tomado, aguarda o amanhecer. Estou aqui: Ardo...
O poetinha dá risadas com a insensatez de uma aprendiz. 
Posso?
Devo... A alma é livre e cata vogais e consoantes pelo breu da noite.
Divago,valso a alma ao som da música doce.
Não sei o que diz... sinto a melodia e os acordes.
Ao fundo, sons de violino. As mãos bailam pelo teclado e, de vez em quando, maestrinam!.
Levito: devaneios cismaram em me tirar da rotina.
Estou viva!





DESANIVERSÁRIO

Desaniversariar é acender a vela da alegria em agradecimento a um tempo que passou.
Desaniversariar é abrir os olhos e perceber que tudo é novo, o nascimento de momentos iridescentes no lumiar da vida...
Desaniversariar é apagar todas as mazelas e preencher o coração de luz...
Desaniversariar é passar debaixo do arco iris e brincar com o colorido das cores...
Desaniversariar é abrir os braços para a vida e não ter a vergonha de ser feliz...
Desaniversariar é recomeçar um começo começado à luz da manhã...
Desaniversariar é acordar de manhã e encontrar-se com o eu mais lindo do mundo...
Desaniversariar é redescobrir o brilho da paz no olhar de pequenos cheios de luz e força...
Desaniversariar é desapertar o nó da gravata que sufoca sonhos e pende ombros com tamanha responsabilidade...
Desaniversariar é despetalar um mal me quer e descobrir um bem querer...
Desaniversariar é olhar em frente e se sentir um vencedor, um cavalo alado a romper tempestades...
Desaniversariar é se sentir um rei diante da vida, doce sapeca...
Desaniversariar é abrir o leque da felicidade...
Desaniversariar é postar-se diante de Deus e marejar plenos desejos...
Desaniversariar é ser feliz ao som de um blues...
Desaniversariar é abraçar o infinito!

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

DESAFIOS

Nada tem sentido quando a vida persegue sonhos e tentativas de realizações.
Depois de longo hiato, me sinto pronta a retomar projetos abortados por problemas alheios à vontade.
Acontece que adoro desafios e não são boatos impróprios de pessoas mal informadas, que ouvem o galo cantar, mas não sabem de onde, que vou me abater.
Julia... amada pelos amigos, odiada pelos invejosos. Assim, nomes delicados se referem a mim.
Mas a inveja não me alcança. Tenho santo forte e várias portas se abrem ao meu coração sincero. Tenho alma pura, acobertada por olhos verdes, esperança de quem ama a vida, família, amante, amigos e trabalho.
Como uma formiga, fui traçando meu caminho pela vida vivida a cada minuto, ora dor, ora alegria... Ora frustrações, ora conquistas.
Uma gangorra de surpresas: Ah! coração... Aguenta o tranco que desafios brincam com os brios de uma mulher guerreira que não se abate com ameaças vãs.
Nestes momentos, ora estou numa cachoeira, ora pulando ondas no mar ou pisando em algas coloridas.
Não sou perfeita, mas sou tinhosa... Não piso, mas me transmudo em camaleões que se defendem do perigo, para mim, imaginário.
Moinho de vento. Isto! Como Quixote, afasto invejosos imaginários, perdidos em sua pequenez...
Almas pequenas, espíritos vãos que se preocupam com a continuidade da mesmice.
Não é a toa que amo Adélia Prado, quando diz: "Mulher é desdobrável".
E eu sou.
Pensam que estou inerte... Ah! imbecis... Estou a mil por hora, a mente fumegando e o coração aos pulos.
Tenho cabelos nas ventas, não é Julia Carolina da Cunha?
Desafios fazem cócegas em quem já se desdobrou em mil...

SURPRESAS DA VIDA


 A vida tem surpresas que acalantam o coração.
E o coração, esse bobo, tem razões que a própria razão desconhece!
Sem espera, sem expectativas, um sopro de vida faz cócegas em minha orelha e sussurra um segredo...
Eu
te
amo...
O som das palavras faz eco no coração bobo, agora, de alegria!
Nada como um dia após o outro!
Agora, dia após dia, vivo surpresas vivas e presentes em meu ser.
Os dias são alegres, as tardes brilhantes, noites iluminadas, mesmo que chova manso em meu coração.
Olhares,mesmo que invisíveis, preenchem de sonhos reais ao coração hoje, tranquilo.
Três palavrinhas que trouxeram o perdão a esta alma , antes aflita e vazia.
Aprendi a conviver com a solidão, pois hoje ela é acompanhada.
Afastei de mim o anel de brilhantes que macerava meu espírito, adoecia o corpo ferido pelas dores cruéis.
Sou dona da minha vida. Libertei-me de traumas e delírios tremens que sufocavam meu ser e apagavam meu sorriso.
O amor aconteceu novamente. Trago em mim os olhares doces, mansos, mimos a uma vida que se faz presente.
Sorrimos, rimos, gargalhamos, conversamos, sussurramos doçuras em nossos ouvidos.
E a espera preenche o vazio de quem chorou, de quem sorriu, de quem viveu as sombras da solidão.
Nossas mãos são livres e nosso ir e vir também. Nosso ninho faz parte da vida que pulsa em nossas veias.
Eu
Te
Amo!
Após doloridas e vazias vidas, me encontro feliz...
Estou bem e faço das chibatadas um canto de alegria.
Obrigada, vida, pelas surpresas trazidas pela tempestade do nada...
Nada que se fez pleno de encontros furtivos, acariciados pela fumaça do cigarro.
Se danem preconceitos. Somos um em dois, e não somos de ninguém.
São nossos, momentos iluminados pelo riso molhado, provocado pelo encontro de corpos suados pela ternura.
Obrigada, meu amor que tem um jeito todo manso de desnudar a minha alma...
Sou sua!




sábado, 26 de janeiro de 2013

E AS CRIANÇAS DO ESCALADO E DO ALEGRE VÃO À ESCOLA


Fim de férias! Acabaram-se as brincadeiras nas tulhas de milho e feijão, corridas pelo campo, jogos de bola de gude, o pular de cordas, seis crianças no lombo do cavalo... Upa, cavalinho! Brincadeiras nos córregos, casos de assombração à beira do fogão, enquanto a banana assava, mijo na cama com medo da mula sem cabeça, enfim... As aulas vão começar. A gurizada do distrito volta aos seu lares. E a criançada da roça ajeita sua capanga com novos cadernos. Quanta expectativa: - Quem será a professora? Algumas crianças vão a cavalo. Levantam às 5 horas, pois as aulas começam as 7. Outras, sem esse conforto, vão a pé. É comum os pés ferirem, até se acostumarem com os pedregulhos do caminho. Outras vezes, a meninada faz barganha:o cavalo por bolinhas de gude. Mas a barganha era segredo... As bolinhas eram escondidas no mato! Marília me disse que seus irmãos eram muito levados. E bilhetes teriam que fazer a trajetória: Escola- pais. Quem disse que os meninos deixavam? Bilhetes nunca chegavam ao seu destino. Belo dia, o garoto foi apertar o arreio do animal. E Eloiza ficou muito perto! Levou uma mordida do cavalo e até pouco tempo as marcas dos dentes do cavalo ficaram em seu braço. Zepha aguardava a turma com alegria. Professora estava ali. Brava, ensinava as lições a todos. Coitado daquele que não aprendia de primeira... Cara na parede... Mas como era bom o caminho do Alegre e do Escalado! Nada contrariava às crianças que voltavam pra casa, felizes por ter em mãos as bolinhas de gude da barganha. E o Zé trocava anelzinho de bala com Suely Sette. Pureza de duas crianças que se encontraram na maturidade e reforçaram sua promessa de amizade eterna. E eu, de gaiata, pego carona nas histórias de amigos, que antes desconhecidos, hoje moram em meu coração. Amo vocês, primosas!

ADRO DA IGREJA DO BORBA APÓS A MISSA

Dia de missa! Festa no Borba. Borbagatenses esperam de quatro a nove meses para ter o direito de assistirem a uma missa. Ainda não há estrada de carro. As pessoas transitam montados em burros e mulas, inclusive o padre. A chegada do padre é uma alegria! Montado em sua mula preta, percorre as ruelas do Borba. As famílias esperaram. Quitandas fumegam no forno redondo, enquanto costureiras terminam de preparar os figurinos das famílias. Afinal, peças inteiras de tecido foram compradas no comércio local. Só variavam as cores dos tecidos e os modelos. As pessoas estão muito elegantes. As ruas se colorem com o ir e vir das crianças, jovens e adultos em direção à Igreja do lugar! Igreja de São Sebastião que, com seus companheiros, todos adornados de flores do lugar, exalam seu perfume... Até parece que tomaram banho! A missa é em latim: - Oremus!!! As orações continuam, pois "as almas" estão leves após a confissão... Leves de que, me pergunto! Que pecados podem ter uma comunidade que vive a trabalhar e ferir os joelhos no 'quarto dos santos', enquanto seu padre não vem? Soa a campainha. A missa é prolongada, mas tem um fim. As senhoras acompanham o vigário de Ferros até a casa de Cele, recém casada e feliz! Moçoilas e rapazes transitam pelo adro da Igreja. É o momento dos namoros, mãos fugidias se encontrando, beijos roubados no calor do dia. Que delícia! O calçamento do Adro registra em suas pedras cada gesto, cada pisar adocicado de namorados apaixonados. Vestidos rodados se encontram com a brisa que esvoaça tecidos leves que cobrem os corpos de moças bonitas. Os rapazes ajeitam seus bigodes e crianças correm pra lá e pra cá, na doçura de capristanas que conduzem às escadarias da Igreja. Hora do almoço.Panelas fumegantes são ajeitadas à mesa. O padre se lambe de prazer! Celebrar missa no Borba é um desbunde... Que digam as pedras do adro e as bochechas rosadas das moças! Afinal, o estoque de casmehere bouquet esgotou-se na loja do lugar! Mas o que conta é a felicidade dos jovens que flertaram seus amores... E aneizinhos de bala com pedrinhas de vidro trocados entre as crianças. Escurece. A mula preta do padre segue seu destino. Bornal cheio, pois a viagem é longa. E as pedras do adro hibernam felizes! Esperam por outro momento de reflexão: Qual será o próximo casamento? Marília Procópio que me diga...

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

LEVEZA

LAVEI MINH'ALMA. SAIU O PESO DA CACUNDA.

ALMA CIGANA

Tenho a alma cigana. Por lugares, vielas e países sempre estive. Cidades brotam em meu coração E junto com elas, vivências e sonhos de uma alma cigana. Como Drummond, nunca viajei. Quando muito estive nas fronteiras da Argentina. O Borba? Ha! o Borba! Lá estive de menina com minha mãe. Por lá esteviveram meu avô, e com certeza, meu pai. Por lá rezei rezas que não conhecia o significado. Por lá chorei pelo sapato novo, apertado, com saudades do chinelo que acariciava meus pés. E meu avô me levou a descobrir ruelas que hoje, meu coração percorre! Minha alma cigana não agrada a todos. Desculpem-me Mas continuo a viajar pelas asas do azul.

O BORBA EM SERENATAS

Sabor de lembranças no ar... A claridade da lua cheia provoca o perfume da dama da noite que exala sua essencia pelas ruas do Borba Gato. Deve ser o sopro de São Sebastião através das palavras de Marília Procópio. O céu do Distrito esparrama recordações das serenatas que, à tona, estão pelas ruas e memórias do borbagatense. Noite de lua cheia... Que tal uma serenata hoje? O trago no cigarro dá lugar a um assobio e, de repente, as pessoas vão saindo de suas casas. As mulheres, com flores no cabelo, cheirando a alfazema, vão saindo ao lado de seus companheiros e se acomodando na carroceria da caminhonete do Eduardo, filho do Zé Campos. É ele que conduz a turma de músicos com seus instrumentos e cantores afinados a caminho das fazendas do "ferreiro" que mora no campo. Por onde começar? Os acordes do violão apontam para a fazenda do 'tio' Cristovão. E a turma começa... A música 'chão de estrelas' abre o repertório. Passeia pelo céu uma estrela cadente que faz lembrar Dolores Duran, com a noite do meu bem... Enfeita-se a noite com o som das pastorinhas que acordam 'tio Cristovão' e sua família. Dalva de Oliveira quer participar também. Sopra nos ouvidos de Silvério, Valdomiro e Cele os acordes da música 'Barracão de Zinco'. O coro acompanha como ninguém... E dá-lhe cachaça... A carne de panela com farinha alivia o olor da pinga que desliza pela garganta. Tempo esgotado com tio Cristovão. Ainda vamos na casa do Fernando de Nandinho, Bolão do Amir, Zé Vitor, Zé de Serrinha e, de quebra, uma passada pela Vendinha, a caminho de Carmésia. A caminhonete desliza pela estrada de chão como se conhecesse o caminho de cor... Meu coração... não sei porque... bate feliz quando te vê! valsas, boleros, marchinhas cavalgam nas vozes dos cantores da madrugada. Amanhece. Todos são chamados pela lida diária. A lua dá lugar ao sol que chega de mansinho, com seus raios dourados. Mas o som das vozes dos músicos continua: Cidade maravilhosa, cheia de encantos mil... E as ruelas do Borba crescem diante tanta sinfonia. Cadê o sono? O fogão a lenha aguarda a chaleira que chia... O cafezinho está saindo! E já se pensa na próxima serenata! Não é, Cele?

sábado, 19 de janeiro de 2013

O QUARTO DO MEIO

No Distrito do Borba e pelo interior das Minas Gerais, em suas construções em estilo colonial, ou em casas simples com "cadeiras na calçada", as edificações abrigavam em seu design, o famoso 'quarto do meio'. Era um espaço cheio de mistérios: religiosidade ou castigo. Religiosidade quando abrigava os santos de devoção dos proprietários de suas moradas! Imagens de vários santos se misturavam a cheiro de velas votivas e flores colhidas com fé e carinho pelo coração materno, que no silencio da noite rezava por alguém que só sua alma inquieta sabia. Hoje, todos os santos do quarto do meio acompanham as festividades de São Sebastião. Pra lá de satisfeito com os seus filhos. São Sebastião comenta com São José, Santa Rita e as 'Virgens' Marias como está feliz com a alegria de seus filhos. O quarto do meio está vazio. Todos os santos encontram-se pelas ruas do Borba, em procissão. Marias, Joões, Joses, como cobra se arrastando pelo chão, seguem a procissão que se encaminha para a Capelinha do Borba. Que alegria, meu Deus! O quarto dos santos não existe mais. A modernidade, com sua arquitetura avançada, tirou de dentro das casas os quartos sem ventilação, ou estas foram demolidas para dar espaço a edificações coloniosas, atitude saudosista de um passado considerado tranquilo por seus moradores. E o 'castigo'? que tem a ver com este caso? Simples, uai... moças virgens, casadoiras, tinham nestes quarto do meio, seu colchãozinho de palha, seu travesseirinho de paina o aconchego para suas lágrimas de saudades do namorado! O quarto do meio não dava para a rua. E nestas alcovas, as filhas eram protegidas de um suposto beijo roubado! Mas hoje, não há castigo... Bastião não deixa! Ele protege seus filhos e agradece as homenagens de seus amados. Beijos não são roubados... são consentidos pelas famílias que se reúnem no bar do Vander! Primo Vander! Ainda não o conheço, mas seu pai era irmão do meu vô Zé Gomes! Hoje não existem 'quartos do meio'. Há a alegria radiante que se ecoa no Bar do Vander, ao som do violão do Tio Valdomiro... Não é primozas! Salve Bastião!

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

SÃO SEBASTIÃO, ROGAI POR NÓS!

Hoje minha alma , livre que é, vagueia pelas ruas do Borba Gato! Meus olhos acompanham toda a movimentação que ocorre no Distrito: tudo é lindo! A Igrejinha dos "Ferreiros" encontra-se toda enfeitada de flores colhidas nos jardins das casas que, preparadas pelos seus moradores e pela chuva abençoada por Deus, traduzem a alegria de São Sebastião, em seu aniversário! Rei, Rainha e seu cortejo andam pelas ruelas do lugar, ao som da Banda de Música, dança da marujada e do foguetório que ilumina o Borba... Salve, Bastião! Sei que gosta de ser chamado assim por nós! Suas chagas provocadas pelas flechadas nem doem mais... Seus filhos que explodem o coração de amor por você oram e festejam sua presença iluminada! E minha alma voa: pede licença e entra pela Igrejinha: meu Deus! Que linda! Toda matizada de flores que exalam o perfume "que roubam de ti!... E cheia de fé, beijo a fita que vem de sua imagem. Em nome dos borbagatenses, envio meu coração ao infinito e me resigno dizendo: São Sebastião, rogai por nós! Afaste de nós todas as mazelas do mal! E se não se importar, abençoe nossa alimentação festiva e que nossa cerveja deslize lentamente pelas nossas gargantas, enquanto parabenizamos você e aguardamos felizes pela próxima festa. Nossa alegria é abençoada por Você! Só mais um pedido, meu bom Bastião: Abençoe também os Borbagatenses ausentes! E que as montanhas e ruas do Borba sejam o abrigo de todas as almas que, passeiam pelas ruas enfeitadas: almas viventes na Terra e almas viventes no céu... Num abraço afetuoso estamos todos unidos em torno de você. Salve Bastião!