sexta-feira, 31 de maio de 2013

Coração desfolhado

Estou me sentindo vazia, com a cabeça oca, com a ternura a divagar pela sombra da noite.
Nada tem sentido: nem o breu, nem a luz do sol...
Queria me sentir livre, com o coração a pular de amor, de ternura.
Mas nada é assim! Minha vida está em ruinas, e a cada dia cai um pedaço de meu corpo.
Não sei porque. Talvez seja culpa da solidão, que insiste em fazer de mim uma coisa despedaçada.
Quero viver.
Quero responder com alegria a esse sentimento que me mata aos poucos.
Quero responder com sorrisos a essa tristeza que perfura meu coração.
Quero, quero, quero ser livre pra gargalhar e dar lugar à alma pura.
Que o sol vermelho me traga cores  e um amor deslumbrante...
É querer demais?
Não!
A lua cheia me aguarda e vejo seu reflexo nas águas do rio.
Rio Santo Antonio que me deslumbra de alegria.
Paradoxo: tristeza e alegria brincam de vai e vem em meu coração.
Mas tem jeito: Meu coração fará as malas e pisará nas águas geladas do Santo Antonio.
Para sempre, as montanhas acompanharão meu viver...

 

sexta-feira, 24 de maio de 2013

SER MÃE

Minha cabeça torce e retorce a respeito da escolha que fiz em ser mãe.
Cada uma de minhas três gestações são revividas , vividas no coração, Quanto encanto eu vivi enquanto gerava meus filhos, um a um, cada um deles com suas características especiais.
Como foi sublime cada espera, noites de diálogos com cada um deles, numa entrega total e absoluta. 
Meu ventre era acariciado por nove meses, enquanto esperei o momento de receber cada um deles em meu colo.
Nasceram, claro, cada um em seu momento. Minha retina registrou a ferro e fogo cada gesto, cada movimento, cada palavra dita, cada resposta de cada um ao meu colo de paixão. Maravida!
O tempo passou. Num piscar de olhos, minhas crianças, hoje são três homens adultos, sadios, inteligentes,
maravilhosos.
Um deles já deu fruto: Mateus- dom de Deus- alegria da minha vida, adrenalina necessária para que eu consiga superar as pauladas da vida.
Que pena! Os filhos, ao crescer, esquecem de um passado maravilhoso, dos passeios pelos parques, a disputa do lugar no carro, da doação incondicional do amor de mãe.
Adultos, são cruéis. 
Veem em mim uma mulher ultrapassada, mulher metida a cocota...
Coitados! Ainda não aprenderam que somos eternos e que nossa alma grita por energia, grita pela vida!
E, em seu desconhecimento, agridem com palavras ferinas, sangrando o coração.
Estou num desses momentos: o coração sangra e, por mais que interrogue, não consigo entender o quanto errei.
Caminho pela minha estrada. As perguntas não tem resposta. Não sei definir meus erros, pois sou humana,
carne, fibras de um coração mal compreendido.
Apesar das dores, valeram cada segundo em que estive com eles.
Hoje, a história tende a se reverter... Sou criança vista pelos meus filhos.
Criança levada, traquina, que não corresponde às lições proferidas pelos filhos.
Trôpega, caminho.
Não soube ser filha, não aprendi a ser mãe. Meu amor que fatiou em três o meu coração desassossega na solidão.
Só! Muito só! 

sábado, 11 de maio de 2013

VAGA-LUME

Quem sou eu, pequena vaga-lume, que atravessa a escuridão, levando luzes que não iluminam nada?
Que menina insubordinada é essa  que enxerga na escuridão o vazio da luz?
Digo e repito: não sou ninguém frente aos desafios diários, frente à ignorância que arrota sua vantagem...
Continuo a ser uma menina, de vestidos semi-curtos e olhares trôpegos pela madrugada.
Menina que vê em suas cadelas. a alegria do anoitecer, prazer delicioso da liberdade...
Agora sou livre à noite! Até por pouco tempo.
Não entendo a maldade humana, mas reconheço em mim a malvadeza de quem não tem luz de um vaga-lume.
Desesperadamente, sou eu! Aflita, agoniada e só.
Aonde estava eu pra criar meus filhos?
Aonde estavam meus filhos para se enxergarem no caminho que mostrei?
A luz do vaga-lume foi insuficiente, não superou o clarão da lua...
E o clarão da lua aborta sonhos de uma mulher que viu numa labareda a solução
elegante de uma vida que, de bem vivida, se transforma num breu; breu sequer amacia as cordas de um violino, que hoje é visto como tralha a incomodar  nova ordem mundial...

domingo, 21 de abril de 2013

REFLEXÃO

Não há surpresas quando se é uma mulher madura.
Ledo engano... Fui laçada por dois momentos tidos como inusitados, em se tratando de mulheres inteligentes, que são personagens do século XXI.
Tentaram o laço com uma atitude vulgar, chamada preconceito. Caí fora, mas as palavras ferinas, caretas absurdas mexeram com o super ego. O ego estava atento e não caiu na besteira de entrar na roda...
Ora bolas!  Á mulher madura não é permitido o gozo, a ternura do abraço, a languidez do beijo?
Meninas ignotas, que da vida não sabem nada...
A não ser agirem como dondocas ou donas de casa frustradas por não exercerem a profissão escolhida.
Pressinto que preciso prestar mais atenção à escola do mundo: uma das pollyanas foi minha aluna.
Bah! Onde estava eu que não consegui socializar nada? Em que mundo eu vivia quando me era comum fazer parte de passeatas pela praça Sete, achando uma lutadora com seus pupilos nos movimentos a favor do impeachment e dos movimentos também a favor das Diretas Já?
Ora bolas! Que a vida seja uma bela lição... Quem não aprende pelo amor, fica sábia através da dor!
E há situações que nem a dor ensina...
Enquanto isso, na maturidade, namoro, beijo beijos molhados, me fantasio de sonhos, desde que eles se tornem realidade.
Viu, meninas... Carpe Diem! E que o mundo seja mais doce que um punhado de jabuticabas...

sexta-feira, 19 de abril de 2013

ALMA LEVADA

Tenho uma alma serelepe, tão serelepe, que foge aos padrões impostos pelas leis mundanas.
Assim, como uma menina travessa para qual o tempo passou pela metade.
Claro ! o tempo passou... e com uma velocidade absurda e cruel.
Como alma criança, não senti as alfinetadas da vida, a ponto de sangrar.
As cutucadas das agulhas, feriram, mas não tiraram de mim a reação em favor da vida.
A menina que mora em mim insiste e persiste em viver... Delicia!
Acompanho a menina naquilo que meu corpo não faz mais. Aliás, bem que o corpo é muito altivo ao seguir a minha menina!
Talvez não envelheça.
É possível que a alma arteira continue a surrupiar as leis da natureza e continuar sendo uma alma mundana...
Mundana, sim, porque não? Tenho mãos feitas para tocar o possível e boca para beijar o impossível.
Crudelíssima... adoravelmente viva: corpo e alma se digladiam.
O coração, depositário da alma se cala e bate palmas para a insensatez do corpo.
O corpo, esse menino glamouroso,é guardião da alma levada, que brinca com Menino Jesus de "faz de conta".
Nesse faz de conta, alma serelepe que habita um corpo levado, dá lições da realidade.
Acorda, menina... Dê espaço à alma serelepe, pois ela manda no pedaço!
Corpo? ora corpo... seu olhar é aquele que pontua a safadeza da alma levada.
Alma levada que persegue a luz do amanhecer...

quarta-feira, 10 de abril de 2013

SOLIDÃO

Nao quero amar o que precede a minha frente.
Quero namorar meu passado e matá-lo em beijos quentes, ardorosos e fagueiros e
que ele morra diante de mim, numa morte adocicada pela dor.
Quero uma morte enfeitada de rosas, margaridas e sempre vivas,
E que o sangue role pelas veias e se espalhe pela mansidão da noite.
Você, meu capataz, é moço bonito, face fagueira, sorriso maroto e é com você que o passado será morto.
Você, meu menino, de calças curtas, estará comigo frente ao desejo amargurado da solidão.
Menino bonito, seja cavalheiro: tire o chapéu pra dama que te aguarda desde criança.
E num beijo molhado, apagarei da memória o menino de calças curtas que invadiu a meninice de uma menina boba.
Boba menina que ainda acredita em gerânios na janela.
Menina boba que acredita no sonho perdido, sonho sonhado que se desfaz na morte passadiça, morte
menina que de madura, mata o sonho sonhado no passado que se desfaz nas folhas de outono.
E a morte se faz quente e colorida na corrida desembestada de um cavalo alado.
Voa, meu cavalo... Apague da vida a morte inexorável da solidão.

 

sábado, 16 de março de 2013

SANSÃO E DALILA

Não é de repente que a depressão vai soltar suas garras de minh'alma.
Ela é traiçoeira, covarde e suas fisgadas doem muito. Sangra.
Faz uma reviravolta na cabeça que, às vezes oca, às vezes transbordante, desenha "O Inferno de Dante" em minha vida.
Digladio com as chamas do inferno e um banho morno é capaz de afastar das costas o peso homérico da dor.
Somos Sansão e Dalila! A luta é insinuante, maliciosa, com atitudes prostituídas , capciosas  e sexualmente fecundas. Maldita é você que rouba do meu coração e do meu cérebro a capacidade de ser normal.
No fundo, depressão, te agradeço: você me leva a entender que os normais são idiotamente bobos.
Não me refiro ao "Bobo" da Clarice Lispector que soube lutar e nos presentear com pérolas doces e amargas da sabedoria. Ela também brigou ferozmente, depressão, e fez de você o caminho para a beleza da vida.
Beleza literária que a fez se queimar com o cigarro com o qual ela tentou afastar você.
Não se avexe minha querida inspiradora. Nosso jogo ficará empatado em princípio, mas eu vou ganhar de você.
Pra começar, olharei o céu, dia e noite: vou saber entender a linguagem das nuvens, o brilho das estrelas, raítos de sol, mansidão da chuva e toda a beleza das flores. Não me esqueci dos pássaros. Pela minha janela ainda vejo e ouço bem-te -vis que debocham de você: Cantam soberanos, mesmo nos postes de luz, já que as árvores são cortadas para dar espaço a você, maldita depressão.
Serei, e me preparo para isso, uma mulher feliz. Com a sutileza de Dalila , descubro seu ponto fraco. Vou podá-los. Não acabarei com você por inteiro. Usarei seu lado positivo. Sabe qual é?
Aquele que me dá coragem para amar, escrever, pulular de letras e versos a minha vida.
Aquele que desafia meu sorriso a desabrochar entre o marulhar das águas da cachoeira, do abraço dos amigos, e, querida depressão, me despertar para o gozo.
Gozo da sexualidade que dorme, da sensualidade que se escondeu, da garra de viver a cada segundo, e, querida depressão, gozo da liberdade trançada com "os seus cabelos".
E como é linda a natureza, como é libertária a vida, como é fresca a brisa do mar, como é doce deitar e rolar...