sábado, 14 de março de 2015

MISTÉRIO

Não compreendo o mistério da poesia na alma,
Muito menos a maneira que ela nasce de suas entranhas.

Sem dor, sem lágrimas, mas com uma entrega inexorável, perfeita.


É um parto macio, doce, escorregadio como o entregar ao amor, como o saborear da manga que escorre seu caldo cotovelo abaixo...

Ah! o sabor desse mistério extravasa qualquer sentimento de vazio ou preenchimento da alma.

Alma, essa menina insubordinada que se lambe com o caldo da manga e se faz menina no marulhar do rio que a abriga!

Não só o rio...

Pássaros alimentados pelas frutas corriqueiras ao seu voo iluminado em direção ao azul.

Azul anil, canto embriagado pela lucidez da beleza da liberdade.

Azul magnânimo que se reflete nas águas perdidas do rio,sucumbidas  pela imensidão do céu, que se faz pequeno no vale verdejante que desabrocha em orquídeas...

Mistério que se faz nuvem e se desfaz como algodão doce.

E a poesia jorra letras a formar palavras vadias na imensidão do ser! 

POESIAS


Como definir o dia da poesia se as palavras brincam com a vida a cada despetalar de flores?
Poesia se faz presente a cada momento da explosão de sentimentos,
seja ela ferina ou doce do perfume das flores,
do gorjear de pássaros que se fazem  naturais diante um mamão maduro.

São como gatos que miam céleres diante da magnitude de casas e jardins que os acolhem.

A poesia se faz presente a cada segundo do viver, seja ele adolescente ou adulto,
seja diante do navio negreiro, seja ele diante do mar, seja ele diante da cerveja degustada entre
quatro paredes.

A poesia se faz presente diante da mulher atrevida que escapole do ventre da mãe e brinca
de amarelinha pela calçada da rua pedregosa que se faz de madrinha...

Não há madrinha, muito menos dia da poesia.As palavras se desenrolam como se fora o destarrachar das chaves de uma porta.

Porta que se faz menina fazendo pirraça e sendo desenroscada pela mão infantil que insiste em ser livre.


Livre é o vento que assobia permitindo que as almas de todos os poetas, vivos ou natimortos,
ressurjam na vastidão de jardins cobertos de borboletas...

E o borboletário cheio de larvas permite o esvoaçar de palavras que se transformam em poesias!

sábado, 7 de março de 2015

DECISÃO


Tive noites pavorosas, com o objetivo de ressuscitar o passado.
É verdade... passado já morto, mas insistente em renascer como fênix.
Mil motivos pululavam no consciente, querendo invadir a vida presente, como picadas de gafanhoto.

Pesadelos me levaram a um tempo morto.
Só o presente me interessa.

Acordo mansinho, dou risadas, e me pego cantando...
Maria Bethânia sopra aos meus ouvidos lances do presente, que esteve machucado pela dor.

Mas o canto insiste em provocar risadas na leveza da alma decidida.

Não cairei no mesmo abismo. Conheço a subida e os arranhões agressivos da vida.

Sou livre.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

RENDA DE BILROS


A vida, essa menina insubordinada, brinca comigo através do vai e vem dos pensamentos.
Como é levada a fazer de mim novamente uma garota, ou quem sabe, uma mulher livre!

Pensamentos recuam pelo tempo e se encontram com fios de memórias a traçarem bordados de
renda de bilros.

Pontos entrelaçam na agulha e tecem novamente atos de amor nos encontros marcados na surdina da aventura...

Quero seus braços a me enlaçarem no calor da tarde,
Na magia do chopp a deslizar pela garganta molhada de desejo.

Sou livre ainda...
Porque não te encontrar?

Por que não nos enroscarmos num abraço de desejo e ternura?
A paixão grita enlouquecida e a recíproca é verdadeira.

Não importam compromissos acordados no silencio da noite.

O que grita no sabor da solidão é a vontade transloucada de estar com você outra vez,
minutos deliciosos de prazer, no encontro vadio, passional e travesso ao cair da tarde.

Belle de jour... Estou aqui!




quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

ROTINA

 
     Terminou o horário de verão. Ainda não me acostumei.
     Continuo me deitando muito cedo e me acordando muito cedo também.

    As palavras brincam de esconde esconde no cérebro, enrolando e desenrolando um novelo de linhas, bem fininhas, que se transformam em frases entre as paredes da casa.

Coo café, saboreio o primeiro gole, tomo banho e aguardo os movimentos da vida que se fazem presentes pelas janelas entreabertas.

Aqui dentro tem vida. E como tem...  Vida a brotar por todos os poros, gritando pra sobreviver.
Acorda, criatura! Uma praça bem traçada e arquitetada para satisfazer seus desejos aguarda por você.

Não espere pela companhia. Ela virá. Enquanto isso, saia pelas ruas.
Caminhe lentamente observando as estrelas que se recolhem a dormir e atente-se aos raios de sol que
iluminam o  viver.

A vida, mais uma vez brota estonteante, rodopiando de mãos dadas com as luzes brilhantes do sol.

Permita que a alegria, sua âncora sedutora, desnorteie a irritabilidade que por acaso insistir em acompanhar seus passos.

Saia da rotina. Erga os olhos e siga em frente
.Deixe os cabelos, agora longos, secarem ao movimento suave do vento.

Vento, ento... Dispa-me dos gestos corriqueiros que pesam a alma em eterno movimento.
Abra suas asas sobre o peito que explode , respira e aspira a leveza transcendente da natureza.

Caminhe. Ande docemente pelas avenidas abarrotadas de saudades por você.
Exale felicidade pelos poros entreabertos de prazer.

Vida se faz vida num carrossel de sentimentos que se desenrolam do carretel de ternura.

Ternure-se...


terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

VIDA MENINA


         Vejo diante de mim uma tela em branco e o teclado prenuncia que palavras serão formadas ,
          delineando às vezes, frases desconexas...

          Não é mal sinal. Pelo contrário: aviso inexorável de que estou viva, voando como uma borboleta entre flores da memória.

         Sinto que a vida recomeça. Não de onde parou, mas depois de um hiato profundo, desenhado por um traçado octogonal onde possibilidades se esvaíram a cada esquina sonhada pela moça teimosa em esperar.

Claro que esperei... "um anjo torto" me disse que tudo se ajeitaria no voltear da vida!

E a vida se fez menina.

Menina levada e reticente  em acreditar no possível, no imaginado, na ternura que se esvaiu entre dedos.

Ternura reencontrada no presente. Ternura peneirada entre dores e sorrisos.

Ternura regada de afeto pela sapiência de filhos gerados nas cálidas noites de lua nova, crescente e cheia.
Na lua minguante, minguaram-se as feridas que um dia, sangraram os corações.

Hoje, chuvas de estrelas percorrem o caminho preenchido pelo sabor do reencontro.

Ah! reencontro aguardado pela ternura que salpica de esperança o abraço que se forma no desenho de um coração.

Realmente, sou deliciosamente desconexa...

Ao contrário do previsto, reticências... Vida menina a saborear chocolate nas noites de verão.



NOVA CASA VELHA.


  Andei por caminhos conhecidos pela memória infantil.
  Pelas ruas procurei infância e juventude mal mal vividas e contadas pela história.
  Ladrilhos hidráulicos não refletiram sinais buscados no meu pátio de brincar.


  Meu rio agora marejava longe suas lágrimas de perda das águas marulhantes, que antes registrara sua vida.

As flores fizeram minha alegria. Ah! flores coloridas perfumaram a vida e a solidão que como sombra,
vagavam comigo pela noite escura.

Fui acordada pelo canto do galo, que insistia em alto e bom tom a realidade que afligia, amortecida
pelo gole da cerveja, fria, gelada, ao descer pela garganta num sacudir das cordas vocais que berravam os sons agoniados de uma busca inútil do que não vivi.

O que não vivi perdeu-se rio abaixo e o que me aguardara foram passos perdidos na escuridão da noite.

Tudo em vão.

Acolhida, volto ao colo da mãe adotiva, fragilizada pela busca inútil traduzida em solidão.

Não busco mais verdades absorvidas pela escuridão da noite, pela dor depressiva a me jogar pirambeira abaixo.

Me ergo devagar. Já me encontro de quatro.

Quatro passos, quatro vozes, quatro comprimidos a me salvarem do ato de me sucumbir.
Quatro mãos a apoiarem as costas, evitando um tombo maior.

Oito mãos a segurar minhas dores, a permitirem novo fôlego profundo,

Oito mãos a me aconchegarem no colo macio da certeza do amor suave como um chumaço de algodão.

E a vida se faz vida na "nova casa velha".