domingo, 31 de janeiro de 2010

Amar amando

Meu casulo é tecido em sedas coloridas.
Seu emaranhado acolhe dores e alegrias,
livros, música, chocolate e a espera caliente do amor.
Amor, doçura pra quem já viveu surpresas e adeus.
Adeus, porta aberta para sentimentos trazidos pelo beija-flor...
Beija flor que traduz em seu vôo a delicadeza do ar, o perfume da flor,
o calor do beijo molhado, a ternura de mãos entrelaçadas, "defeitinhos"
resolvidos num revolver de pernas e risadas escandalosas de prazer.
E o casulo se transforma em borboleta...

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Reencontro

Brinco de viver enquanto a vida urge...
Pretextos são criados, inventariados, vividos em solidão.
Leio. Clarice clarear, clareando, obscurecendo, apaixonando os desejos da mulher.
O amor insiste em provocar sonhos adormecidos, dormentes, prontos a explodirem em cores do arco íris.
Adormeço e a criança acorda querendo brincar.
Quieta, menina...

Reminiscências

quando eu era pequena, tudo girava calmo na magia do tempo.

O tempo passava lento entre os vales ou era o mundo mais lerdo,
com seus valores massacrantes dissimulados como na historinha do "lobo mau".
O que se ouvia era o murmúrio do rio,
o olhar atento à paciência do pescador,
a agilidade de mãos que cortavam fininho a couve, a bananinha frita, misturada com feijão batido e farinha de moinho dágua,
a paciência ao se fazer a "tampa na laranja como a boquinha da vovó",
o contar das pedras na calçada,
o pular distraído da amarelinha,
o caderno de perguntas indiscretas,
banho de ribeirão,
calcinha furada ao escorregar perambeira abaixo,
reza no cruzeiro pra chamar chuva,
sol e chuva, casamento da viuva,
garupa de moto, cana caiana,
casa com alpendre em formato de meia lua,
Brasília do Capitão do Mato,
banho de bica,
cavalgada no carneiro morro abaixo,
cara de tacho arranhada pelo arame farpado,
criança feliz entre vales,
validade permanente para a travessia pela vida.

Para a Cidade de Ferros, um dos meus pousos. (2003)

domingo, 24 de janeiro de 2010

Reflexo

Amanhece.
A cor cinzenta reflete a escuridão da alma.
A dor estranha insiste em ferir a sede de viver.
Não vou permitir.
A vida jorra como a nascente do rio e males alheios turvam a solitude da mulher.
Quero viver.
Viver o azul do céu mesmo que este não esteja presente.
O descortinar do azul é momento
de explosão silenciosa.
O azul vem devagarinho, assim como desaparece a ferida que sangra.
Vermelho é a cor do amanhecer. É só enxergar o reflexo da alma que explode
em cristais coloridos.
Insisto em viver.

Amanhecer

Acordo.

O amanhecer reflete a cor cinzenta da minha alma,

alma teimosa em seguir rumos alheios ao meu querer.

Enquanto isso escrevo mazelas que insistem em abortar meus sonhos de mulher:

Viver.

Vejo de novo e novamente persistem dor e solidão.

Mas a vida alheia não vai sangrar a vida que brota como a nascente do rio.

Quero paz!

sábado, 23 de janeiro de 2010

Vida

Vida

Palavra misteriosa ,
carrega os temores e sabores
desconcertantes do respirar...
Hoje um sorriso, ontem uma lágrima, amanhã...
Amanhã que será?
Se vivo, quero risos e choros,
gargalhadas exageradas de gozo do bem viver.
Se vivo, quero a presença aromatizada do mistério,
Mistério que me leva a caminhar distraída pelo mundo.

Faz de conta

Faz de conta que hoje o sol brilha e caminho pela areia.
O mar preguiçoso vai e vem num movimento erótico
a encher de prazer a alma descuidada.
Faz de conta que o vento desenha na areia figuras oníricas,
parte do meu coração atento ao amor.
O amor não vem. As ondas brincam de faz de conta enquanto espero...

Solidão

Aprendo a viver só,
somente solitude.
Alma desvairada a viver virtualmente o que a vida me nega...
A solitude brinca entre meus discos, livros e o canto do belga,
que acaricia o coração.
Enquanto isso,
resisto...

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Turbulência

Dentro de mim mora um leão.
Não é um leão do zodíaco.
É um leão gerado pelo tempo e seu rugido é feroz.
Feroz como o balançar da escuna quando sai do alto mar em direção à praia morena.
Acorda quando menos se espera.
Sacode a juba espalhando o medo por onde anda.
Já consigo tocar sua juba arrepiada.
Ele não resiste à beleza da orquídea, do gorjear dos pássaros, da voz grave de Maria Bethânia.
O que é melhor?
O rugido do leão a colorir mandalas ou o vazio da vida tola que me é imposta?
quero os dois: tatear no escuro e acariciar a juba do leão.
Isto.
O gangorrar da vida me é permitido.
Não quero a mesquinhez. É para ela
que meu leão mostra as suas garras.