sábado, 16 de março de 2013

SANSÃO E DALILA

Não é de repente que a depressão vai soltar suas garras de minh'alma.
Ela é traiçoeira, covarde e suas fisgadas doem muito. Sangra.
Faz uma reviravolta na cabeça que, às vezes oca, às vezes transbordante, desenha "O Inferno de Dante" em minha vida.
Digladio com as chamas do inferno e um banho morno é capaz de afastar das costas o peso homérico da dor.
Somos Sansão e Dalila! A luta é insinuante, maliciosa, com atitudes prostituídas , capciosas  e sexualmente fecundas. Maldita é você que rouba do meu coração e do meu cérebro a capacidade de ser normal.
No fundo, depressão, te agradeço: você me leva a entender que os normais são idiotamente bobos.
Não me refiro ao "Bobo" da Clarice Lispector que soube lutar e nos presentear com pérolas doces e amargas da sabedoria. Ela também brigou ferozmente, depressão, e fez de você o caminho para a beleza da vida.
Beleza literária que a fez se queimar com o cigarro com o qual ela tentou afastar você.
Não se avexe minha querida inspiradora. Nosso jogo ficará empatado em princípio, mas eu vou ganhar de você.
Pra começar, olharei o céu, dia e noite: vou saber entender a linguagem das nuvens, o brilho das estrelas, raítos de sol, mansidão da chuva e toda a beleza das flores. Não me esqueci dos pássaros. Pela minha janela ainda vejo e ouço bem-te -vis que debocham de você: Cantam soberanos, mesmo nos postes de luz, já que as árvores são cortadas para dar espaço a você, maldita depressão.
Serei, e me preparo para isso, uma mulher feliz. Com a sutileza de Dalila , descubro seu ponto fraco. Vou podá-los. Não acabarei com você por inteiro. Usarei seu lado positivo. Sabe qual é?
Aquele que me dá coragem para amar, escrever, pulular de letras e versos a minha vida.
Aquele que desafia meu sorriso a desabrochar entre o marulhar das águas da cachoeira, do abraço dos amigos, e, querida depressão, me despertar para o gozo.
Gozo da sexualidade que dorme, da sensualidade que se escondeu, da garra de viver a cada segundo, e, querida depressão, gozo da liberdade trançada com "os seus cabelos".
E como é linda a natureza, como é libertária a vida, como é fresca a brisa do mar, como é doce deitar e rolar...

sexta-feira, 15 de março de 2013

DEPRESSÃO

Tenho lido muitas mensagens sobre auto estima, pensamento positivo, fé.
Procuro entranhar as palavras em meu ser, engolir letra por letra para preencher o coração.
Tudo em vão. A angústia sufoca o peito como se fosse agarrado por um polvo.
Ando pela casa em desatino, silenciosa. Antes alegre, florida e rodeada de amigos.
Os filhos quase não aparecem e suas visitas são cheias de cerimônia: sentam-se no sofá, perguntam se tudo está bem; o que precisa, usa o computador ou toma um banho.
Também li numa mensagem que o computador não é lugar para desafogar tristezas e sim, para postar firulas.
Nunca deixo a tela em branco e não respeito o imbecil que gostaria de podar minhas dores, do espaço público.
Ora, converso como quero e do jeito que posso.
Ninguém me dirá o que devo fazer: o que devo sentir eu sei: amor, alegria, sorrisos e risadas escandalosas ou furtivas, prazer em trabalhar e no retorno deslizar uma cerveja bem gelada.
Meu cérebro encontra-se empacado, atolado em lamas, preso à tristezas que meu médico sabe muito bem explicar.
Não quero falar a esse respeito. Tenho a Janna que, com sua doçura , maciez do pelo e olhar carinhoso, "segura minha onda".
Sei que filhos são empréstimos temporários de Deus à nossa guarda. Preciso me resignar.
Em contrapartida, tenho vários amores: dos filhos, à sua maneira, de amigos, de irmãos, também à sua maneira, meu neto mais bonito do mundo, noras, filha que encontrei pelo caminho - como a amo- trabalho que enobrece minha alma e um amor especial que anda preenchendo o vazio da alma, também preenchendo o buraco formado pela minha cabeça que encontra-se oca.
Mas quero ter fé. E dançar, e dançar e dançar pelas praças, rodopiar pela sala brincando com Janna.
Jamais desistir da alegria, significado do meu nome.
Não me entrego! Há doenças que não são palpáveis: são invisíveis aos olhos e incompreensíveis a terceiros que , talvez a chamem de 'piti'.
Mas a fé, outra força em formato de nuvens e arco íris, há de bater à porta de meu coração.
E eu, esperançosa que sou, direi: Estou aqui!
Assim, sim: vou dançar um bolero, de rosto colado ao de meu amor e juro: nada interferirá em nossa felicidade.
Músicos: "a postos"! Afinem os intrumentos! E muito cuidado com os violinos, doçura de minh'alma!




 

quinta-feira, 14 de março de 2013

TRAQUINAGENS

Era menina numa cidadezinha do interior e brincava de amarelinha pelas capristanas das ruas.
Cabelos amarelos contrastando com os olhos verdes e chamada pelo Gil da loja, de Martinha. Não sei porque ele via em mim traços da miss eterna, Marta Rocha.
Fui feliz. O grupo Escolar "Silveira Drummond" era minha alegria: contava os minutos para as aulas começarem.
Além de bom estudo, brincadeiras sem malícias e os cantos dirigidos por D. Finoca: "Desperta no bosque, gentil primavera"...
E a primavera chegava com o canto do gentil sabiá...
Fui uma menina tímida, mas não perdia a chance de fazer uma traquinagem... em casa o coro comia.
Tive uma mãe muito rigorosa!
Muito amiga de Rosangela Cruz, quantas vezes fui pra sua casa, na garupa do cavalo, para dormir e voltar no dia seguinte cavalgando meus sonhos pelo São José... As aulas eram mais doces e a felicidade brilhava em meus olhos de menina!
Lulude era minha colega de carteira: meninas de um lado e meninos do outro.
Raramente conversava com um menino... minha mãe prevenia tanto e eu tinha medo. Mesmo assim, Arthur Elisio foi padrinho de uma boneca que me pertenceu. Segundo ele, vestiu terno pela primeira vez.
Mas quem me encantava era outro garoto: menina levada, mantinha o caderno de "perguntas indiscretas", que corria de mão em mão...
O objetivo do caderno era conhecer os possíveis segredos de cada colega e, quem sabe, alguma dica que sugerisse um namorico.Que delícia... O caderno rodava  pelas mãos de todas as meninas, o que matava de curiosidade a vida dos meninos.Todas as meninas tinham o seu...
Escrevínhamos com caneta tinteiro e as carteiras possuiam um círculo para acondicionar o tinteiro.
Um dia, na hora do recreio, o menino que preenchia meu coração de doçuras inimagináveis,disse:
- Júlia, você consegue colocar a caneta, assim, em pé? E segurou a caneta de ponta pra baixo.
Disse: _ Claro que consigo... E na minha ingenuidade, segurei a caneta com a pena pra baixo, mas a segurando pela tampa. Claro que a caneta caiu e sua pena entortou-se toda...
Ele riu um riso safado, com certeza da minha infantilidade.
Passei aperto: como mostrar em casa? Seriam outras varadas?
Minha reação foi fazer-lhe careta e "ficar de mal". Como doeu meu coração...
Contei ao meu pai. Ele, com sua doçura, consolou-me e pediu que não me preocupasse.
Neste dia, fiz meus deveres a lapis.
Não sei dizer quem consertou minha caneta. Só sei que a tenho até hoje.
Sou uma mulher madura. Os olhos continuam verdes.
O menino? Nunca mais vi.
Mas transformou-se num homem bonito, que dia desses, o verei de perto.
Será se me lembrarei das "perguntas indiscretas"?
Na realidade, aguardo pelo sorriso lindo e, buscarei no seu rosto os traços da criança matreira , que já demonstrava desejos para os primeiros namoricos.
Quero ser a mulher de hoje e, quem sabe, realizar um sonho  do Caderno que reservava as fantasias
de uma menina moça?
Credo! Não se fala mais assim... Onde você se escondeu, alma sapeca?
Seja mulher do século XXI, acalentada pelos sonhos de uma menina...