Sou uma mulher de vermelho.
Vermelho que disfarça a escuridão da alma que insiste em se esconder em seu labirinto misterioso.
Piso devagarzinho nos mistérios que atordoam e fazem cambalear na noite escura.
Crio coragem. As palavras sábias de um amigo dão um sinal que é preciso caminhar pelo desconhecido coração.
Abro suas portas. As escoras evitam que passos trôpegos prossigam pelo caminho misterioso.
Vou devagar. O vermelho ilumina a lama dos compartimentos cheios de lodo, definindo onde posso pisar sem me ferir.
Desdobro em duas: uma de mim passeia por lugares floridos, iluminados, cheios de amor, alegria e sorrisos. Saltito, bato palmas e sinto feliz. Percorro os mistérios da vida que encantam o viver: são sorrisos, beijos molhados, música, sons de violino, travessuras de criança, que hoje adulta, continuam a dar alegrias.
As janelas estão abertas e a luz descortina um caminho novo:"toco novas canções no mesmo violão".
Preciso pisar na lama e sentir o cheiro de lodo do lado escuro.
Outra de mim tem essa missão. Não é fácil.É como um disco quebrado arranhando o vinil e sangrando o peito que explode de dor. O bolor entope as narinas, fere as mãos: a alma embolorada quer dar as cartas.
Entro em cada compartimento, abro as janelas. O peito arfanteaflito pede socorro. Não é possível tanto breu.
A luz teima em entrar devagarinho.O bolor se desmancha diante da luz.
O vermelho se respinga de podridão. E a luz dos poetas transformam em pétalas de chuva o conhecido coração.
O arco íris ilumina as artérias fazendo pulsar o sangue das veias. Por elas passam o amor. O lado escuro não resiste à luz, ao brilho de vagalumes que desmancham remédios com o mistério de sua sabedoria. Sua luz é mais forte que o neón. Sua luz translúcida pisca e repisca enchendo de amor a vida da vida. Num passe de mágica volto a ser única. Desdobrável, mas inteira.
Júlia Carolina da Cunha. Março/2010
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